terça-feira, 23 de novembro de 2010

Inculta e bela


"Última flor do Lácio, inculta e bela
És a um tempo esplendor e sepultura"
O trecho é de Olavo Bilac, que se referiu ao portugues como ultima flor, ultima das linguas derivadas do latim. A lingua portuguesa é fantástica, desde a gramática à fonética. Por mais que muitos critiquem, detestem estudar gramática ou aquelas aulas de português dos tempos de colégio, é um bem que nós brasileiros teremos para o resto de nossas vidas. A escrita, torno a dizer, é fantástica.
Aos que creem que um bom escritor já nasce com o dom, já de início informo: tal ideia não passa de um mito. O que diferencia um bom escritor dos outros cidadãos é a consciência de que deve-se tratar cada palavra como um ser vivo. Essa relação é mais clara do que se pode imaginar à primeira vista, pois tal como um ser vivo, cada palavra do texto deve ser devidamente colocada em seu habitat, ou seja, no contexto em que melhor se encaixa.Desta forma haverá harmonia no conjunto, o que caracteriza a leitura agradável. Não se escreve de forma coerente sem um bom vocabulário, amplamente encontrado na prática diária da leitura.
A tarefa de produzir um bom texto requer sobretudo paciência, visto que estão envolvidas longas horas de prática, aperfeiçoamento e a ciência da "tentativa e erro", conhecida pelos escritores como rascunho. É digno de nota que um verdadeiro escritor nunca se considera realmente bom, pois busca continuamente o aperfeiçoamento, reconhecendo que nesse trabalho nem sempre é possível transmitir ao leitor tudo o que se deseja.
A escrita foi o marco do início da História na civilização humana. Justamente a transição do período pré-histórico para o histórico na sociedade foi um novo passo para o aperfeiçoamento da comunicação, ampliando o conceito de razão que nos diferencia dos outros seres. Desde então a folha e as ideias tem um relacionamento íntimo para aqueles que se permitem tentar, criticar, registrar.
A relação harmônica entre o ser humando e a escrita é portanto uma arte. Consiste em lapidar na oficina da mente a construção de cada frase, harmonizando cada palavra. Diante desta difícil tarefa de saber escrever, a humanidade se descobre escrava da produção de texto, um belo vício que a acompanhará por tempo indeterminado.

WL*

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